Imagem: Reprodução Redes Sociais |
Na
prisão desde o último dia 15, o ex-presidente do PT José Genoino está
quase sem voz. Condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no
escândalo do mensalão, o deputado licenciado do PT queixa-se de dor no
peito e tem agora o olhar apagado, como se estivesse mirando um ponto
fixo.
"Baixinha,
quando eu cheguei nessa prisão senti que estava vivendo tudo aquilo de
novo", disse ele a Rioko, sua companheira há 40 anos, segundo relato da
filha mais velha do casal, Miruna Kayano Genoino.
"Aquilo" é uma
referência ao cárcere da ditadura, quando Genoino foi capturado pela
polícia após participar da Guerrilha do Araguaia, nos anos 70. Foi
naquela época que conheceu Rioko, prisioneira e torturada como ele.
"Depois de 40
anos, meu pai e minha mãe se reencontraram numa cadeia", afirmou Miruna,
com a voz embargada. "Todos nós choramos muito."
Mesmo nos dias
de visita no Complexo Penitenciário da Papuda, Genoino nem de longe
lembra o homem que se apresentou à Polícia Federal, em São Paulo, com o
punho erguido e gritando "Viva o PT!", num gesto de resistência.
Dividindo a
cela "S 13" com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro
do PT Delúbio Soares, o ex-deputado do PTB Romeu Queiroz e o
ex-secretário de Finanças do PL (hoje PR) Jacinto Lamas, ele passa a
maior parte do tempo quieto.
Submetido há
quatro meses a uma cirurgia para dissecção da aorta, Genoino toma vários
remédios diários. Por recomendação médica, deve ter uma dieta com menos
sal e precisa fazer exames periódicos para controlar a coagulação do
sangue, porque sofreu um AVC em agosto. Nesta quarta-feira mesmo passou
por novos exames, mas médicos do presídio admitiram não haver ali
condições para dar a ele os "cuidados específicos" mencionados no laudo
do Instituto Médico Legal (IML).
"Nesse momento,
não estamos lutando para discutir o julgamento do Supremo Tribunal
Federal. Pedimos e imploramos pela prisão domiciliar para o meu pai por
uma questão de saúde. Todos os dias a gente acorda e não sabe o que vai
acontecer com ele", desabafou Miruna.
"Enfermeiros". Dirceu
e Delúbio fazem as vezes de enfermeiros no cárcere. Antes de ser
transferido para o regime semiaberto, no Centro de Internamento e
Reeducação da Papuda, Genoino chegou a tomar água de torneira. "Você não
pode beber isso", afirmou Dirceu, que pediu água mineral para o
companheiro de cela. Foi atendido.
Ele e Delúbio
também notaram que o ex-presidente do PT tossia com sangue e trataram de
avisar o diretor do presídio. "É emocionante ver como Zé Dirceu e
Delúbio estão cuidando do meu pai", contou Miruna.
Para ela, tudo
ali remete aos tempos da ditadura. Até mesmo a água. Nos anos 70,
Genoino recebeu choques elétricos na cadeia e passou sede. Desfalecido,
implorou pela água durante horas, até que um carcereiro, escondido,
jogou uma garrafa na cela. Genoino nunca viu o rosto dele. Eleito
deputado federal, contou o episódio em uma entrevista e o policial se
apresentou.
Embora todos os
condenados do PT se definam como "presos políticos", o deputado
licenciado é o que mais preocupa a presidente Dilma Rousseff, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os dirigentes do partido. "A
prisão, para ele, é uma sentença de morte", resumiu Renato Simões (SP),
secretário de Movimentos Populares do PT, que ocupa a vaga de Genoino na
Câmara.
Vera Rosa O Estado de S. Paulo
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